Em plena crise, o pensamento inquieta-se e interroga-se; ele pesquisa as causas mais profundas do mal que atinge a nossa vida social, politica, económica e moral.
As correntes de ideias, de sentimentos e interesses chocam brutalmente, e deste choque resulta um estado de perturbação, de confusão e de desordem que paralisa toda a iniciativa e se traduz na incapacidade de encontrarmos soluções para os nossos males.
Portugal perdeu a consciência de si mesmo, da sua origem, do seu génio e do seu papel, de herói intrépido, no mundo. Chegou a hora do despertar, do renascimento, de eliminar a triste herança que os povos do velho mundo nos deixaram, as bafientas formas de opressão monárquicas e teocráticas, a centralização burocrática e administrativa latina, com as habilidades, os subterfúgios da sua politica e dos seus vícios, toda esta corrupção que nos tolda a alma e a mente.
Para reencontrar a unidade moral, a nossa própria consciência, o sentido profundo do nosso papel e do nosso destino, isto é, tudo o que torna uma nação forte, bastaria a nós portugueses eliminar as falsas teorias e os sofismas que nos obscurecem o caminho de ascensão à luz, voltando à nossa própria natureza. Às nossas origens étnicas, ao nosso génio primitivo, numa palavra, à rica e ancestral tradição lusitana e/ou celtibera, agora enriquecida pelo trabalho e o progresso dos séculos.
Um país, uma nação, um povo sem conhecimento, saliência do seu passado histórico, origem e cultura, é como uma árvore sem raízes. Estéril e incapaz de dar frutos.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Os Berrões em Portugal

Berrão

Um Berrão é uma estátua, quase sempre representando um animal, que, apostando na teoria que reúne maior número de adeptos, era antes tida como ídolo protector de determinado sítio. Uma Deidade, espécie de genius loci (o génio ou espírito do lugar) a que uma determinada comunidade, habitualmente uma aldeola, prestava devoção.








Em Trás-os-Montes e na Beira-Alta, há Divindades que não se enquadram em cruzes. São os Berrões, estátuas de animais que se tinham como Deuses locais, congregando gente à volta da mesma comunidade.

Origem do Berrão

Os Berrões (ou Verracos) dos castros VetõesAtribui-se a sua origem aos castros Vetões, tribo indo-europeia de provável raiz pré-celta, e vizinha oriental de lusitanos e galaicos – alguns teóricos falam ainda de uma proveniência vinda dos Dragani, etnia de procedência incerta, podendo até, à falta de grande quantidade de provas históricas, ser antecedente dos Vetões.
De qualquer forma, indo pela via mais consensual que sugere o Berrão como produto de mãos Vetãs, será essa a razão para a grande fatia dos Berrões encontrados estar na raia leste do norte de Portugal, nas províncias de Trás-os-Montes e Beira Alta. Da mesma forma, é igualmente do outro lado da actual fronteira que se regista o maior número de Berrões achados (e por lá chamados Verracos), acompanhando a geografia da Meseta, de terras de Salamanca até às redondezas de Ávila – e esta última deverá ser a cidade magna no que a este assunto diz respeito (veja-se na foto ao lado a enorme concentração que existe junto à cidade espanhola).
Para o sentido da visão, um Berrão não será muito mais do que uma estátua, ainda por cima já desgastada pelo tempo que passou desde que foi feita até aqui, e acredita-se que os tenham começado a construir algures na Idade do Ferro, isto é, há mais de dois mil anos.
Mais um dos Berrões do nordeste português

Os Berrões como Deuses dos lugares

Um Berrão vai muito além do que se vê. Na verdade, ainda nem sabemos bem qual a sua função, embora algumas sugestões nos pareçam próximas da verdade.
Com excepção de uma mão de casos que fogem à norma, todo o Berrão é talhado de uma rocha granítica. Uns quantos, na zona da cabeça, têm dois orifícios onde, muito provavelmente, se enroscavam dois chifres de madeira.
Apresentam formas zoomórficas, de animais que, por todas as mercês que davam aos humanos, eram tidos como sagrados em tempos idos. Neles se enquadram o javali, o porco ou o touro – menos frequentemente pode dar-se o caso do animal esculpido ser diferente das espécies atrás mencionadas, nomeadamente o do urso.
O que parece ser óbvio é que quem os fez quis evidenciar a masculinidade do bicho, sendo os órgãos genitais (quando não dizimados pelo tempo) uma chamada de atenção para qualquer passeante que os veja. Aqui, nesta intencional exibição fálica, poderemos falar numa hipotética funcionalidade do Berrão enquanto amuleto para a fecundidade, ou parceiro sacrificial de oferendas a Deidades.
Esta teoria é reforçada pelos trabalhos arqueológicos em volta do Berrão do Picote, encontrado no sítio onde deveria estar originalmente, ao contrário dos restantes. Com efeito, o Berrão do Picote foi descoberto no centro de um espaço circular onde se acharam ossos de variados animais, ao qual estava anexo um longo corredor, dando a entender que ali era deificada a escultura.
Pode ainda falar-se do Berrão como totem, figura que determinados populi viam como seu guardião supremo, até mesmo como seu antepassado. Nesse sentido, transforma-se numa representação do lugar a que a sua devoção é circunscrita: uma conversão do espírito do lugar em ídolo materializado. É neste contexto que se compreende a sua frequente colocação à entrada dos castros, como Deuses porteiros vigilantes – e este quadro pode ser presenciado, ainda hoje, em Portugal, como acontece em Castelo Mendo.
Há ainda quem alvitre uma função sagrada alternativa, como protector do gado comunitário, ao mesmo tempo que poderia servir para marco geográfico dos sítios mais propícios a uma actividade central destas organizações tribais: o pastoreio. Isso justificaria todos os Berrões encontrados na periferia das fortificações, em zonas de terra fértil, adequadas ao pasto.
É de notar que todas estas possíveis explicações para a existência de Berrões não têm de ser adversárias umas das outras. Pelo contrário. Se de facto encontramos nestes ídolos uma alma de um lugar, é normal que, por essa mesma razão, eles fossem alvo de religiosa admiração por parte da comunidade, e que esta os usasse como amuleto de boa fortuna para as tarefas do quotidiano.
Berrão protector das muralhas de Castelo Mendo

Exemplos de Berrões em Portugal

Como já se disse, é no interior norte que os Berrões invadem as praças e os museus das terras. A vastíssima maioria dos Berrões portugueses são transmontanos. Os que não são, encontram-se a pouca distância, a sul do Rio Douro, e encostados à fronteira com Espanha.
Há os que se aguentaram bem, os que ficaram parcialmente desfeitos com o passar dos séculos, e os que são um mero ensaio do que antes foram – isto para não falar dos que desapareceram. Falaremos abaixo de três dos mais icónicos.
Uma porca que é mais um porco, mostra-se orgulhosa como símbolo de MurçaComeçando pelo mais famoso, o Berrão que toda a gente conhece, mesmo os que não estavam a par desta figura tutelar: a Porca de Murça (foto ao lado). No mínimo, já se ouviu falar nele, não exactamente do Berrão mas do vinho que dele tirou o nome. Mais indo ao Verraco que é o que aqui importa: a Porca de Murça não é uma porca mas sim um porco (os testículos estão bem destacados), e encontra-se no centro da vila de Murça, como estátua identitária da povoação, ou seja, mantendo o papel de totem que tinha no passado. O caso da Porca de Murça é importante por isso mesmo, por ser o orgulho de um povo que lhe presta a devida devoção.
Também a convocar a homogeneidade da comunidade perante si está o Berrão de Bragança, este com duas particularidades – o facto de ser, aparentemente, a escultura de um urso; e o facto de estar perfurado pelo Pelourinho da cidade. Esta comunhão de dois símbolos centrais de um município tornam-se uma intenção feliz de fundir dois lados elementares de qualquer povoado: o do poder aliado à justiça (concentrado no Pelourinho e em tudo o que ele significa) e o espiritual (que tem representação na alma do Berrão).
Por fim, e passando para terras da Beira Alta, os já mencionados Berrões de Castelo Mendo gozam de virem ao mundo em dose dupla, e a sua localização é em tudo conivente com o que aqui foi dito: à entrada da porta do castelo, um do lado direito e outro do lado esquerdo guardam a fortaleza, como se de soldados reais se tratassem.

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Oestrymnis Festival de Arte Folk 2017

O Oestrymnis Festival de Arte Folk está de regresso, contando mais uma vez com a presença do Origines Art.



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