Ulisses
O mito é o nada que é
tudo.
O mesmo sol que abre
os céus
É um mito brilhante e
mudo –
O corpo morto de
Deus,
Vivo e desnudo.
Este que aqui
aportou,
Foi por não ser
existindo.
Sem existir nos
bastou.
Por não ter vindo foi
vindo
E nos criou.
Assim a lenda se
escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la
decorre.
Em baixo, a vida,
metade
De nada, morre.
Fernando Pessoa
Localização do poema
O poema “Ulisses”
encontra-se na primeira parte, “Brasão”, da “Mensagem” de Fernando Pessoa e
integra-se no segundo capítulo: “Os Castelos”. O facto de ser o primeiro poema
dessa parte, justifica-se por Ulisses ser o mais antigo dos heróis associado à
história de Portugal De facto, neste capítulo, como acontece noutros, o autor
segue uma organização cronológica dos heróis.
O título “Ulisses”
remete-nos para a origem de Portugal, atribuindo a Ulisses, navegador errante,
que depois da guerra de Tróia se perdeu, a fundação de “Olissipo”, futura
Lisboa. Não havendo provas históricas dessa fundação, na sua origem está,
portanto, um mito.
O povo português
nasceu de figuras lendárias (uma delas Ulisses) por isso ficamos predestinados
a continuar ou seguir os feitos grandiosos dos nossos antepassados, mantendo
Portugal sempre no seu auge. Hoje em dia Portugal encontra-se em decadência.
Para chegarmos ao quinto Império devemos seguir, acreditar e imitar os feitos
dos nossos antepassados, não através da força, mas sim através da cultura, do
conhecimento, como previu Fernando Pessoa. Para este autor os Descobrimentos,
apesar da sua grandiosidade, foram apenas uma pequena amostra do que os
Portugueses são capazes fazer e daquilo que Portugal será: afirmar-se-á
mundialmente através da cultura.
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