Por artes que não vêm ao caso, a escultura jacente e acéfala de um guerreiro lusitano, oriunda da Galiza e datada do século I a.C., há muito foi posta de pé no coração de Cabeceiras de Basto. E, no correr dos tempos, acrescentada: sobre o pequeno escudo circular, com a inscrição «Ponte de S. Miguel de Refoyos 1612»; já no século XIX, com um estupendo par de botas de montar, um facies e uma bigodaça de granadeiro e a barretina de quem ousou enfrentar as tropas de Napoleão. Ali ficou, encostada à parede, devotamente baptizada - o Basto.
Também outrora se roubavam pedras às ruinas dos castelos para fabricar as lareiras dos lares. Há neste portuguesíssimo desrespeito pelo património histórico (no arquelógico caso de o Basto, as estátuas gémeas terão todas permanecido do outro lado do Minho...) qualquer coisa do mais sincero carinho. Em redor do lar se reune a família, enregelada e esfomeada; naquele pitoresco o Basto se revê a região inteira, prenhe de lendas, tradições, episódios de coragem, valentia e resistência - assim catita, meio Viriato meio Gomes Freire, general por inteiro, o Basto foi elevado à dignidade de um símbolo!
E tudo as gerações acabam por perdoar, deixando crescer acima do pecadilho os mimos devidos aos adoptados. Quem ponderaria restituir hoje o Basto às suas origens, à sua essência? Quem enfrentaria, po isso, as hostes, reunidas em fúria, de Cabeceiras, Celorico e Mondim?
Pois se até as torres de Ofir ou o mamarracho Coutinho de Viana vieram para ficar...
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