Em plena crise, o pensamento inquieta-se e interroga-se; ele pesquisa as causas mais profundas do mal que atinge a nossa vida social, politica, económica e moral.
As correntes de ideias, de sentimentos e interesses chocam brutalmente, e deste choque resulta um estado de perturbação, de confusão e de desordem que paralisa toda a iniciativa e se traduz na incapacidade de encontrarmos soluções para os nossos males.
Portugal perdeu a consciência de si mesmo, da sua origem, do seu génio e do seu papel, de herói intrépido, no mundo. Chegou a hora do despertar, do renascimento, de eliminar a triste herança que os povos do velho mundo nos deixaram, as bafientas formas de opressão monárquicas e teocráticas, a centralização burocrática e administrativa latina, com as habilidades, os subterfúgios da sua politica e dos seus vícios, toda esta corrupção que nos tolda a alma e a mente.
Para reencontrar a unidade moral, a nossa própria consciência, o sentido profundo do nosso papel e do nosso destino, isto é, tudo o que torna uma nação forte, bastaria a nós portugueses eliminar as falsas teorias e os sofismas que nos obscurecem o caminho de ascensão à luz, voltando à nossa própria natureza. Às nossas origens étnicas, ao nosso génio primitivo, numa palavra, à rica e ancestral tradição lusitana e/ou celtibera, agora enriquecida pelo trabalho e o progresso dos séculos.
Um país, uma nação, um povo sem conhecimento, saliência do seu passado histórico, origem e cultura, é como uma árvore sem raízes. Estéril e incapaz de dar frutos.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Viriato - Novas perspectivas


Segundo a tradição, o herói nacional lusitano - Viriato - teria nascido no Monte Hermínio, desde há muito identificado com a nossa Serra da Estrela. Outra tradição diz que a aldeia serrana de Folgosinho, no concelho de Gouveia, localizada em plena Serra da Estrela, teria assistido ao nascimento de Viriato (vide O Interior 16-05-03).


No entanto, em nenhuma fonte antiga se encontra a afirmação que a pátria de Viriato era o Monte Hermínio. Segundo Jorge de Alarcão, apenas o historiador Diodoro Sículo se refere ao local de nascimento do herói, embora em termos vagos: "Viriato era um dos Lusitanos que viviam perto do Oceano e, tendo sido pastor desde a infância, era um montanhês experiente". De acordo com esta passagem apenas se sabe que Viriato era um "montanhês experiente". Mas qualquer associação à Serra da Estrela é uma mera hipótese que não tem qualquer prova escrita ou arqueológica a apoiá-la. Pelo contrário, as lutas lusitanas conduzidas por Viriato e os seus companheiros tinham como centro de acção a zona de Cáceres, localizada entre a Serra Morena e o Alto Guadiana e onde se situava a cidade de "Arse", conhecida como uma das principais cidades de Viriato. Já vimos, também, noutra ocasião que os povos Lusitanos se estendiam muito para além da fronteira portuguesa, para territórios actualmente espanhóis. Na região de Cáceres, mais precisamente, em Arrayo de la Luz, foi mesmo descoberta uma inscrição em língua lusitana semelhante à inscrição do Cabeço da Fráguas.
Face ao exposto, nenhum dado nos autoriza a afirmar que a Serra da Estrela foi a "Pátria de Viriato". No entanto, as vertentes orientais da Serra da Estrela terão sido ocupadas por povos Lusitanos que construíram as suas aldeias – os castros - em cabeços elevados e as fortificaram.


Os Lusitanos das montanhas da Beira e os seus vizinhos são descritos pelo geógrafo grego Estrabão. Na sua obra "Geografia", mais precisamente no seu livro III, escrito entre os anos 20 e 7 antes de Cristo, apresenta os povos do Norte da Península Ibérica, incluindo os Lusitanos: "Dizem que os "Lysitanoí" são hábeis nas emboscadas e nas perseguições, ágeis, espertos e dissimulados. O seu escudo é pequeno, de dois pés de diâmetro, e côncavo pelo lado interior: levam-no suspenso à frente com correias e não tem, ao que parece, braçadeiras ou asas. Vão armados, também, de um punhal ou faca; a maior parte leva couraças de linho e, alguns, cota de malha e capacetes de três penachos. Outros cobrem-se com tecidos de nervos; alguns servem-se de lanças com ponta de bronze". Prosseguindo a sua descrição diz que: "…Todos os habitantes da montanha são sombrios: não bebem senão água, dormem no solo e usam cabelos compridos ao modo feminino. Para combater cingem a frente com uma fita".


Viriato seria um destes Lusitanos das montanhas da Beira ou das montanhas de Cáceres. Para muitos autores espanhóis, Viriato é originário das serras espanholas. Para muitos portugueses não há dúvida que Viriato nasceu na maior montanha portuguesa. Esperemos que a arqueologia venha a trazer novos dados sobre o assunto. Para tal é necessário apostar na investigação dos muito mal conhecidos povoados Lusitanos da Beira Interior e do seu território.

Para aprofundar o tema ver Jorge de Alarcão - Novas perspectivas sobre os Lusitanos (e os outros mundos). Revista Portuguesa de Arqueologia. Volume 4, n.º 2. 2001.

Por: Manuel Sabino Perestrelo

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