Em plena crise, o pensamento inquieta-se e interroga-se; ele pesquisa as causas mais profundas do mal que atinge a nossa vida social, politica, económica e moral.
As correntes de ideias, de sentimentos e interesses chocam brutalmente, e deste choque resulta um estado de perturbação, de confusão e de desordem que paralisa toda a iniciativa e se traduz na incapacidade de encontrarmos soluções para os nossos males.
Portugal perdeu a consciência de si mesmo, da sua origem, do seu génio e do seu papel, de herói intrépido, no mundo. Chegou a hora do despertar, do renascimento, de eliminar a triste herança que os povos do velho mundo nos deixaram, as bafientas formas de opressão monárquicas e teocráticas, a centralização burocrática e administrativa latina, com as habilidades, os subterfúgios da sua politica e dos seus vícios, toda esta corrupção que nos tolda a alma e a mente.
Para reencontrar a unidade moral, a nossa própria consciência, o sentido profundo do nosso papel e do nosso destino, isto é, tudo o que torna uma nação forte, bastaria a nós portugueses eliminar as falsas teorias e os sofismas que nos obscurecem o caminho de ascensão à luz, voltando à nossa própria natureza. Às nossas origens étnicas, ao nosso génio primitivo, numa palavra, à rica e ancestral tradição lusitana e/ou celtibera, agora enriquecida pelo trabalho e o progresso dos séculos.
Um país, uma nação, um povo sem conhecimento, saliência do seu passado histórico, origem e cultura, é como uma árvore sem raízes. Estéril e incapaz de dar frutos.

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

A NATURAL E ORIGINAL PROXIMIDADE RELIGIOSA ENTRE O OCIDENTE E A ÍNDIA

"O pensamento religioso da Índia não é, para nós, um pensamento exótico ou estranho. Só a Índia soube preservar a história de uma busca cosmológica, religiosa, mística e filossófica que constituiu a experiência comum de grande parte da humanidade, em especial de um mundo indo-mediterrânico proto-histórico, do qual quase perdemos a recordação, consequência do fanatismo das novas religiões agressivas e colonialistas, como o Budismo, o Cristianismo e o Islão, nas quais a fé cega e proselitismo frequentemente ocuparam o lugar da busca do conhecimento e do humilde respeito diante das misteriosas intenções dos Deuses. 

Antes da chegada destas religiões simplistas e populares, de carácter principalmente social e utilizadas com fins políticos, não existia oposição entre religiões. Os esforços para descobrir o enigma do mundo, para compreender o lugar do ser vivo no Universo e os meios para realizar o seu destino constituíam uma empresa comum, como o constitui hoje em dia a investigação científica dos pensadores de diversas partes do mundo. Só diferiam os relatos lendários, uma sorte de fábulas baseadas em elementos locais, que serviam para ensinar a um povo os elementos da sabedoria, os princípios da filosofia, as virtudes dos heróis e os mistérios dos Deuses. Sem embargo, o seu sentido era claro para todos. 


As indagações dos filósofos acerca da estrutura do Cosmos eram paralelas, e ainda que os nomes outorgados às energias cósmicas fossem diferentes em uma e outra cultura, isso não apresentava maior obstáculo que a diferença de termos científicos nas línguas modernas. Os Deuses representavam os princípios universais, que se podiam representar simbolicamente nas forças da natureza, mas não por pessoas activas que se interessavam directamente no destino ou na acção dos homens. O Varuna hindu correspondia ao Úrano grego, Indra não é senão outro nome de Júpiter. Os soldados de Alexandre iam a Nisa, montanha sagrada de Xiva, a Quem chamaram Diónisos, para venerar o Deus e abraçar os seus irmãos de religião. O Héracles que menciona Megástenes é o Deus-herói Crixna. (...)»

In «Deuses e Mitos da Índia», de Alain Daniélou

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