Em plena crise, o pensamento inquieta-se e interroga-se; ele pesquisa as causas mais profundas do mal que atinge a nossa vida social, politica, económica e moral.
As correntes de ideias, de sentimentos e interesses chocam brutalmente, e deste choque resulta um estado de perturbação, de confusão e de desordem que paralisa toda a iniciativa e se traduz na incapacidade de encontrarmos soluções para os nossos males.
Portugal perdeu a consciência de si mesmo, da sua origem, do seu génio e do seu papel, de herói intrépido, no mundo. Chegou a hora do despertar, do renascimento, de eliminar a triste herança que os povos do velho mundo nos deixaram, as bafientas formas de opressão monárquicas e teocráticas, a centralização burocrática e administrativa latina, com as habilidades, os subterfúgios da sua politica e dos seus vícios, toda esta corrupção que nos tolda a alma e a mente.
Para reencontrar a unidade moral, a nossa própria consciência, o sentido profundo do nosso papel e do nosso destino, isto é, tudo o que torna uma nação forte, bastaria a nós portugueses eliminar as falsas teorias e os sofismas que nos obscurecem o caminho de ascensão à luz, voltando à nossa própria natureza. Às nossas origens étnicas, ao nosso génio primitivo, numa palavra, à rica e ancestral tradição lusitana e/ou celtibera, agora enriquecida pelo trabalho e o progresso dos séculos.
Um país, uma nação, um povo sem conhecimento, saliência do seu passado histórico, origem e cultura, é como uma árvore sem raízes. Estéril e incapaz de dar frutos.

Viriathus

Mito ou realidade? A figura e a lenda.

Viriathus



A figura mais notável entre os lusitanos foi Viriato, Virius, Viranus, Vironus, Vironicus, Virotus ou ainda Viriathus (179-139 ac), um dos seus líderes no combate aos romanos. Tal nome deriva da palavra viriae, um nome celtibero, viriolae em celta, o qual significa braceletes. Portanto Viriathus seria aquele que usava viriae. Um nome comum que mais tarde se tornou próprio.
Após a segunda guerra púnica (218-201 a.C.), Roma dominava o Leste e o Sul da Península Ibérica. As zonas Oeste e Norte eram ainda dominadas por populações indígenas (iberos) e celtas. Uma federação de tribos lusitanas, que habitavam as regiões mais ocidentais, resistiu à penetração romana, sob a brilhante liderança de Viriato, de 147 a 139 a.C.
As batalhas entre a cofederação de tribos lusitanas e o império romano tiveram início cerca do ano 193 ac. Supõe-se que Viriato pertencia a um dos clãs lusitanos, não se sabendo exactamente qual seria. Filho de Cominio, chefe do seu clã, terá tido de algum modo acesso a vários aspectos culturais e experiências, para além das actividades de pastor de rebanhos e caçador, que lhe permitiram desenvolver a guerra de guerrilha, com estratégias e tácticas sofisticadas, chegando mais tarde a dialogar positivamente com os representantes de Roma, e alcançando inclusive a designação de "Amicus Populi Romani", ou seja, aliado em paz com Roma.

Cronologia das guerrilhas Viriatianas


218 a.C - Mercenários lusitanos integram os exércitos de Aníbal durante a segunda Guerra Púnica.
194 a.C - Os lusitanos atacam a Andaluzia, sendo derrotados por Públio Cornélio Cipião Nasica em Ilipa.
193 a.C - Marco Flúvio Nobilior derrota os lusitanos em Toledo, auxiliado por tribos locais.
190 a.C - Derrota do pretor Lúcio Emílio Paulo na Bastetânia, perto de Lyco.
186 a.C - Os romanos vencem os lusitanos perto de Hasta Régia.
179 a.C - T.Semprónio Graco, pretor da Citerior e L. Postúmio Albino da Ulterior, derrotam lusitanos e vaceus.
163 - 162 a.C - Durante o consulado de Nascia e Gigulo os lusitanos foram derrotados novamente.
156 a.C - Recomeçam as guerras de Roma contra os lusitanos.
155 a.C - Incursão de lusitanos e vetões, comandados por Púnico, contra os Blastofenícios. Derrota de Manílo e Pisão. Morte em combate do questor Terêncio Varrão.
154 a.C - Os lusitanos derrotam o pretor Calpúrnio.
153 a.C - Césaro sucede a Púnico e vence o pretor Lúcio Múmio. Sucede-lhe Cauceno que invade o Cinéticum e toma Conistorgis.
152 a.C - O pretor Marco Atílio, governador da Hispânia Ulterior, vence os lusitanos e toma a cidade de Oxthraca.
151 a.C - Lúcio Licínio Lúculo extremina a população de Cauca. Sérvio Sulpício Galba é derrotado pelos lusitanos e refugia-se em Conistorgis.
150 a.C - Lúculo saqueia a lusitania. Massacre de Galba. Entre os sobriventes está Viriato.




149 a.C - Galba é acusado e julgado em Roma, no entanto consegue a absolvição pelo seu dinheiro. 
147 a.C - Dez mil lusitanos invadem a Turdetânia. O pretor Caio Vetílio derrota-os. Viriato é eleito caudilho dos lusitanos. Vence Vetílio em Tríbola.
146 a.C - Viriato derrota o pretor C.Plâncio na Carpetânia, apoderando-se de Segobriga, vencendo também Cláudio Unimano, governador da Ulterior.
145 a.C - Viriato vence Caio Nigídio. Chega a Hispânia o cônsul Q. Fábio Máximo Emiliano.
144 a.C - Os lusitanos são derrotados por Emiliano, retirando-se para Baikor, no vale do Guadalquivir.
143 a.C - Viriato induz a Hispânia Citerior (belos, titos e arevacos) à revolta. Inicia-se a guerra numantina. Viriato derrota Q. Ponpeu e Quíncio.
142 a.C - Viriato fortifica Tucci e derrota o consul Lúcio Cecílio Metelo Calvo.
141 a.C - Q. Fábio Máximo Serviliano chega à Hispânia e combate Viriato. Serviliano toma cinco cidades na Betúria e na Andaluzia, mas é atacado por Cúrio e Apuleio. Cúrio morre no combate e Servílio regressa à Bética.
140 a.C - Cerco de Erisana. Derrota de Serviliano. Tratado de paz. Viriato recebe o título de amicus populi romani.
139 a.C - O senado rompe o tratado de paz. Viriato é assassinado por Audax, Ditalco e Minuro a mando de Q. Servílio Cepião. Os lusitanod refugiam-se no monte de Venus. Tautalo sucede a Viriato, fracassa na sua expedição a Sagunto e faz um pacto com Cepião.
138 a.C - Décimo Júnio Bruto, procônsul da Citerior, vence os lusitanos e os galaicos que se haviam aliado a estes.
133 a.C - Queda de Numância.
114 a.C - Caio Mário limpa a província da Hispânia Ulterior de bandoleiros.
112 a.C - Lúcio Calpúrnio Pisão derrota os lusitanos que saqueavam a sua província, morrendo na batalha.
109 a.C - O procônsul Q. Servílio vence os lusitanos.
105 a.C - Um exército romano é derrotado pelos luistanos.
104 a.C - Rendição dos Seano (em território lusitano) ao governador da Ulterior, Lúcio Cássio.
102 a.C - M. Mário ataca os lusitanos.
98 a.C - Lúcio Cornélio Dolabela triunfa sobre os lusitanos.
97 a.C - Públio Licínio Crasso derrota de novo os lusitanos que atacavam a região andaluza.
94 a.C - Fim das guerrilhas Viriatianas.
83 a.C - Sertório é nomeado pretor da Hispânia Ulterior.
80 a.C - Sertório refugia-se na Mauritânia. Os lusitanos enviam-lhe embaixadores pedindo-lhe que os comande na guerra contra Roma. Sertório aceita e regressa à Hispânia.

Viriathus
O heroi lusitano


Muitos historiadores se debruçaram, nas suas pesquisas, sobre a figura mítica de Viriathus, mas pouco conseguiram, especialmente sobre a data e o local do seu nascimento. Julga-se, no entanto, que tenha aparecido na parte ocidental da Lusitânia e que fazia parte das tribos Lusitanas que habitavam do lado do oceano.
Também se escreveu que seria, eventualmente, oriundo dos altos Montes Hermínios (actual Serra da Estrela), mas nenhum autor da antiguidade o menciona como tal.
Asseveram alguns que teria sido pastor, o que outros contradizem, afirmando que a teoria de que teria sido pastor não é a mais correcta. Viriathus teria sido aristocrata proprietário de cabeças de gado.
O historiador romano Tito Líveo (64 aC - 12 dC.), descreve-o como «um pastor que se tornou caçador e depois soldado, que seguiu o percurso da maioria dos jovens guerreiros - a “iuventos” -, que se dedicavam a fazer incursões para captura de gado, à caça e à guerra».
De acordo com a tradição romana, os antepassados mais ilustres eram, normalmente, pastores, e compara-se Viriathus àquele que teria sido o pastor mais ilustre que se tornou no rei de Roma, Rómulo.
O grande historiador grego, Diodoro da Sicília (Sec. I aC. ), que também se refere nos seus livros a Viriathus, afirma que, apesar de pensarem alguns que ele teve uma origem obscura, «demonstrou ser um príncipe». E acrescenta: «Enquanto ele comandava foi mais amado do que alguma vez alguém foi antes dele».
Os Lusitanos que viam nele o seu grande herói, atribuíam-lhe os títulos de “Benfeitor” e “Salvador”, títulos que só eram dados aos reis da dinastia ptolemaica.
Diodoro da Sicília, referindo-se ainda a Viriathus, descreve-o como um «homem que seguia os princípios da honestidade e trato justo e foi reconhecido por ser exacto e fiel à sua palavra nos tratados e alianças que fez». E continua o mesmo ilustre historiador: «a opinião geral era de que ele tinha sido o mais amado de todos os  líderes lusitanos».