Em plena crise, o pensamento inquieta-se e interroga-se; ele pesquisa as causas mais profundas do mal que atinge a nossa vida social, politica, económica e moral.
As correntes de ideias, de sentimentos e interesses chocam brutalmente, e deste choque resulta um estado de perturbação, de confusão e de desordem que paralisa toda a iniciativa e se traduz na incapacidade de encontrarmos soluções para os nossos males.
Portugal perdeu a consciência de si mesmo, da sua origem, do seu génio e do seu papel, de herói intrépido, no mundo. Chegou a hora do despertar, do renascimento, de eliminar a triste herança que os povos do velho mundo nos deixaram, as bafientas formas de opressão monárquicas e teocráticas, a centralização burocrática e administrativa latina, com as habilidades, os subterfúgios da sua politica e dos seus vícios, toda esta corrupção que nos tolda a alma e a mente.
Para reencontrar a unidade moral, a nossa própria consciência, o sentido profundo do nosso papel e do nosso destino, isto é, tudo o que torna uma nação forte, bastaria a nós portugueses eliminar as falsas teorias e os sofismas que nos obscurecem o caminho de ascensão à luz, voltando à nossa própria natureza. Às nossas origens étnicas, ao nosso génio primitivo, numa palavra, à rica e ancestral tradição lusitana e/ou celtibera, agora enriquecida pelo trabalho e o progresso dos séculos.
Um país, uma nação, um povo sem conhecimento, saliência do seu passado histórico, origem e cultura, é como uma árvore sem raízes. Estéril e incapaz de dar frutos.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Parabéns Lusitaniae Castrum

11000 visitas no blog e 100 gostos no Facebook são motivos mais que suficientes para celebrar:



PARABÉNS LUSITANIAE CASTRUM 

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

A Bruxa de Évora

A feiticeira ou bruxa de Évora é uma das personagens mais populares e misteriosas do folclore português e das lendas de magia, especialmente na esfera da cultura popular. Sua biografia é dispersa, incerta, cheia de contradições. Até onde conduzem as pesquisas, não pode ser considerada figura histórica; no entanto, a sua fama é o suficiente para a considerar como um arquétipo mítico de um certo tipo de bruxa, de feiticeira.
São três as versões existentes, diferentes entre si, para a referida bruxa. Sendo a última a mais completa e mais bem documentada. No entanto se prestar bem atenção, verá que todas elas se tocam em vários pontos, podendo mesmo ser três versões de uma só história.


1ª Versão
Nanaime, a bruxa que habitou Évora



Évora foi um dos corpos habitados por Nanaime. Este nome ficou conhecido por se tratar da cidade onde ela viveu, entre 1700 e 1800.

Tratava-se de uma bela mulher, conhecedora da magia, alquimista da natureza. Embora temida, era muito requisitada por sua fama de resolver as aflições de todos. Usando ervas, flores, realizava banhos, feitiços, amarrações, sempre no intuito de ofertar cura, sucesso e protecção, na vida e no amor. Famosa por resolver tantas questões amorosas, foi justamente o amor que trouxe o seu fim.

O desejo de Nanaime era o de se unir a um semideus para garantir a eternidade de sua prole. E, assim ela o fez, apaixonou-se por um semideus, contudo, ela não conseguia engravidar. Como seu esposo viajava desbravando mares longínquos, ela decidiu retirar uma amostra de seu sangue para ofertar a uma deidade, a fim de conseguir o filho tão sonhado. A magia faz com que ela engravide durante a ausência do marido que ao retornar a condenou à morte por adultério. Ele a mata, esquarteja seu corpo em muitas partes e o  lança ao mar. Até completar a idade de 14 anos, a sua filha é banida e depois morta e enterrada aos pés de uma sagrada árvore, para que a sua alma ficasse ali retida.


2ª Versão
A Moura



A Bruxa de Évora era uma moura, criada na Ibéria, falava bem o árabe, o português e o latim. Foi criada por umas velhas tias que lhe ensinaram as artes mágicas, dando-lhe como talismãs sete moedas de ouro do califa Omir, uma pedra ágata com inscrições árabes e uma chapa de prata com o nome do profeta.

A bruxa era chamada de Moura Torta, usava trapos, mas no seu peito brilhava um amuleto de âmbar. Ela lia o Alcorão e escrevia, sabia matemática, e olhando o céu reconhecia as estrelas, lia a sorte nas areias, nas estrelas e fazia feitiços e curas. Conhecia a magia dos seus ancestrais muçulmanos, mas vivendo no século XIII, também sabia a dos celtas.

A bruxa voava montada em cães, lobos, camelos, carneiros e em vassouras, mas sempre era vista voando no seu bode preto. O bode sempre foi um animal de feiticeiros, talvez por ser muito sensual; sugere pactos com demónios, feiticeiras, seres parte homem e parte animal, força de grande magia. O bode da era pagã emprestou sua forma para o diabo. As bruxas também eram companheiras dos dragões, deram a eles muitos nomes: o terrível, o magnífico, o senhor do mundo, o guardião.

Há muitos demónios companheiros fiéis da bruxa de Évora, os principais são: Abalan (príncipe dos infernos), Abigor (demónio de hierarquia superior), Abrahel (súcubo), Asmodeu (um dos chefes), Adramelech (grande chanceler do inferno), Hecate (deusa infernal), Lúcifer (o maioral), Marbas (presidente infernal), Rowe, (conde infernal), Satã (rei dos infernos) e inúmeros outros.

A Bruxa de Évora tinha um gato preto chamado Lusbel. Apesar de a temerem, os alentejanos buscavam os poderes dessa bruxa: feitiços, sortilégios, banhos, amarração, conjuros, etc..., com a finalidade de obter cura, protecção e sucesso no amor e na vida.


3ª Versão
A Bruxa de Évora e São Cipriano



É difícil até mesmo determinar a época em que viveu. A maioria dos textos/livros sobre uma Bruxa de Évora afirma que ela viveu no século... Outros, dizem que viveu em meados da Idade Média. Todavia, um único de texto de referência permite supor que, na verdade, essa Bruxa é mais antiga, e que poderia perfeitamente ter vivido em pleno século III d.C.

Mítica, é possível que a primeira bruxa de Évora tenha sido tão poderosa e influente que seu nome tornou-se sinónimo para praticantes da bruxaria que vieram muito depois e também fizeram fama desde o antigo oriente Médio, Ásia Menor. Uma ideia de bruxa que alcançou não somente a Península Ibérica mas também toda a região costeira do Mar Mediterrâneo, os Balcãs, as ilhas do mar Mediterrâneo: ao longo de séculos, a expressão "Bruxa de Évora", tornou-se algo como um título.

As pesquisas sobre esta feiticeira indicam que boa parte de sua fama nasce junto com a fama de um outro mago negro controverso: CIPRIANO DE ANTIOQUIA que viveu no século III da Era cristã (anos 200). Este, depois de uma vida dedicada à magia negra, converteu-se ao Cristianismo e foi até canonizado passando fazer parte da história Cristã como São Cipriano.

Segundo as lendas, pois as biografias desses personagens não têm registros históricos precisos, o nome "Bruxa de Évora" [ou Bruxa de Yeborath – Iebora, em árabe يعبرهsignificando Cruzado, cruzamento, encruzilhada] aparece pela primeira vez, no contexto do estudo da História da Bruxaria, ligado ao nome do Santo feiticeiro. Ela teria sido uma das mestras do mago e ele, seu discípulo mais prestigiado, herdeiro de seus feitiços.

Porém, esse encontro NÃO ACONTECEU na península Ibérica, como sugere o termo designativo, distintivo da Bruxa, Évora que é uma cidade histórica de Portugal.
Segundo a biografia do feiticeiro Cipriano, seu encontro com a Bruxa aconteceu na Mesopotâmia, na Babilónia, [actual Iraque] onde se reuniam os ocultistas que estudavam a magia dos antigos Caldeus [sobretudo Astrologia].

Os dois personagens, já legendários: Cipriano, o Feiticeiro e supostamente, um de seus Mestres, sendo uma certa Bruxa de Évora, parecem ser um caso de migração de mitos e sincretismo cultural.

Cipriano e a Bruxa, originalmente, parecem pertencer ao acervo das crenças e figuras mitológicas que chegaram à península Ibérica em diferentes períodos históricos mas que combinaram-se perfeitamente no universo da mítica do sobrenatural: primeiro, chega a lenda Cipriano, já difundida no Martirológio cristão: o caso do Feiticeiro e sua misteriosa mestra de Yeborath. O Bruxo que virou Santo.

Mais tarde, o juntamente com os Mouros sarracenos que invadiram e dominaram o território a partir de 715 d.C., vieram as bruxas misteriosas do Oriente, quase ciganas, as bruxas das Yeborath ou Iebora, das encruzilhadas, das agulhas.

Como foi dito, Cipriano – o Feiticeiro não somente encontrou uma certa Bruxa de Evora em sua passagem pela Babilónia como dela teria herdado os livros, as poções, os segredos do poderes de sua Mestra.
Considerando essa informação como fato possível, uma Bruxa ou feiticeira na/ou da Babilónia seria, naturalmente, versada naquele tipo magia característica da cultura Mesopotâmica, aquela normalmente classificada como magia das trevas, da mão esquerda, magia negra: Goecia, necromancia, vidência, evocações, parcerias com demónios, envultamentos [encantamento à distância: os bonecos de cera e as agulhas], oráculos.

Essas bruxas e bruxos foram aqueles que preservaram alguma coisa das tradições da magia das tribos nômades e reino antigos de tempos ainda mais arcaicos entre os quais destacam-se os Caldeus e os Assírios. Era uma Magia de sombras, frequentemente desprovida de escrúpulos, sem critérios éticos, que livremente associava-se com entidades não humanas e pouco confiáveis: demónios, génios, formas-pensamento, elementais, espíritos de pessoas mortas.

Uma bruxa assim poderia, mesmo ter existido. E não somente uma, mas várias. As bruxas de Évora seriam algo como uma categoria de feiticeiras. Voltando à etimologia da palavra Évora, embora sejam encontradas raízes em solo europeu, não se pode desconsiderar a Yeborath dos árabes que, como foi explicado tem como significado: Cruzado, cruzamento, encruzilhada.

Uma etimologia que sugere a tradução do termo Bruxa de Évora para Bruxa de Encruzilhada ou, bruxa que faz seus trabalhos em encruzilhadas, lugar de Pactos. [Lembrando uma característica que lembra a divindade grega Hécate, senhora dos encantamentos e do mundo dos mortos.]

Com uma pequena mudança gráfica e fonética, se Yeborath é dito Iebora, então o significado muda para Agulha, agulhas e assim resulta, Bruxa das Agulhas. Ou seja, uma bruxa que trabalha com agulhas [supõe este pesquisador, agulhas e bonequinho de cera. Meditemos]...

Investigando a Bruxa pela Raíz

Investigar a trajectória geográfica da figura da Bruxa de Évora ao longo dos séculos passa, necessariamente pelo conhecimento do histórico da localidade de Évora até porque, se o folclore em torno desta personagem começa na Babilônia do século III d.C., a crença se perpetua além Oriente-médio, alcança com toda força mítica a vasta região da península Ibérica e, atravessando o Atlântico junto com os grandes navegadores portugueses e espanhóis, encontrou seu lugar no imaginário dos povos latinos-nativos-afro-americanos.
Se, de fato, existiu uma bruxa de Évora cuja vida se cruza com a vida de São Cipriano, esta personagem viveu [ou teria vivido] no século III, os anos 200 depois de Cristo. Nesta época, Évora era uma cidade romana, a Libetalitas Julia, conquistada em 57 d.C..
Contudo, a palavra Évora, ao que tudo indica é a denominação popular da localidade, antes e depois do domínio romano e, ainda, são várias as explicações para a origem deste nome. Plínio, o Velho (23–79 d.C.) – filósofo e naturalista, cronista romano, em seu livro Naturalis Historia, chama o lugar de Ebora Cerealis, por causa dos campos de trigo que dominavam a paisagem.

Os Celtíberos

Os povoamentos na região, cujo centro, hoje, é a cidade Évora, abriga sítios arqueológicos que datam da Idade do Bronze [1.800 a.C.] e outros ainda mais antigos, do Paleolítico, Neolítico, Calcolítico [Idade do Cobre, cerca de 3.000 a.C]; de muito antes da Era Cristã. Sobre o passado remoto de Évora escreve J. Saramago:
Chamaram-lhe Ebora os celtiberos, e como Ebora Cerealis a tem nomeado Plínio, o Velho, na sua História Natural, o que servirá para dar testemunho de que as planuras transtaganas já davam pão pelo menos dez séculos antes que os "alentejanos" (os que viveram e vivem além do Tejo...) se tornassem portugueses (SARAMAGO, 2001).
Mitologia-folclore cristão-pagão e sarraceno [mouros] são apenas dois dos elementos que se misturam na composição da lenda e das imagens relacionadas à Bruxa de Évora. Uma influência ainda mais recuada repousa na história dos fascínios e medos dos povos que habitaram a Península antes de romanos ou mouros.
São os bárbaros celtiberos, dos quais fala Saramago no texto acima e outras nações várias que se miscigenaram com os supostos autóctones [nativos do local] lusitanos oulusitani [em latim] a maior das tribos ibéricas. Os lusitanos propriamente ditos são, geralmente, considerados como proto-celtas, celtas primitivos, migrantes, provenientes do norte europeu, mais especificamente os Célticos.

A Magia dos Celtíberos

Uma xamã, ou feiticeira ibérica, [ou um xamã, o gênero é incerto] figura central no culto da Fertilidade, no Ocidente. É uma sacerdotisa. No peitoral, sete símbolos do sol. British Museum.
Estes primeiros habitantes organizados em aldeias e tribos da região, os celtiberos praticavam a magia européia ocidental mais primitiva, ainda eivada de crenças e práticas pré-históricas, como os sacrifícios humanos, por exemplo.
Também o pesquisador Antônio Alvarez, de língua espanhola, reconhece como primeiros povos históricos da Península Ibérica: Iberos, Tartésios, Celtas e os Celtíberos, como indica o nome, mistura de celtas e iberos.
A maioria dos historiadores concorda que esses povos viviam conflitos constantes e guerreavam entre si com certa freqüência. Viviam em tribos. Eram caçadores, pescadores mas também agricultores e pastores.
No âmbito do religioso e sobrenatural, os Celtíberos eram politeístas, adoradores do Sol, da Lua e das estrelas. Rendiam culto a espíritos de forças da Natureza que, acreditavam, habitavam as montanhas, os bosques, as águas.
Porém, acima de todas a divindades, adoravam um Deus Único Supremo: o Desconhecido, que festejavam nas noites de lua cheia, dançando nas portas das casas e sacrificando vítimas humanas. (ALVAREZ, 1998 – p 404).
Nesse contexto, o papel das mulheres tinha grande relevância posto que exerciam o papel de Xamãs, curandeiras que se utilizavam do conhecimento das virtudes e das peçonhas fornecidos pela Natureza, poções para o bem e para o mal extraídas de vegetais, animais e minerais. No alvorecer da História, as bruxas eram como médicas: do corpo, da alma; intermediárias entre os homens e as forças da Natureza.
Foi essa magia primitiva que, aos poucos, transformou-se na Bruxaria da península Ibérica, resultado da interação com saberes de outras nações: romanos pagãos, romanos cristãos, bárbaros outros, pagãos originais ou romanizados; bárbaros cristianizados, Mouros (muçulmanos, Sarracenos).
Sobre a relação entre Évora e os celtíberos, estudos indicam que, a palavra e o lugar podem estar ligados a uma antiga divindade celta cultuada na região: Eburianus cujo símbolo é a árvore do Teixo. Houve tempo em que os lusitanos chamavam a atual localidade de Évora de Eburobrittium.

Segundo o Livro de São Cipriano

Segundo o livro de São Cipriano [o feiticeiro, século III d.C. anos 200], capa de Aço, no tempo em que os mouros viviam na região portuguesa de Évora, o rei mouro Praxadopel ali construiu um castelo, em Montemur.
"Nesse lugar, hoje chamado Castelo de Giraldo [referência a Geraldo, o Sem Pavor – ... -1173? herói da reconquista da terra lusa ocupada pelos mouros], transformado em ruínas pelo passar dos séculos, em meio às pedras, louvado nas noites escuras pelo uivo de lobos e chacais, no fundo da propriedade, ocultos embaixo de montes de pedras, no Túmulo de Montemur, foram encontrados os restos mortais de sete pessoas e pergaminhos escritos por Lagarrona, a Feiticeira de Évora (também chamada Lagardona ou La Guardona)."
Os mouros, povos do oriente médio, somente poderiam ter ocupado a região depois período de expansão dos domínios árabes em suas incursões em território europeu, em uma época, portanto, pós-fundação do Islamismo. Porém as referências à uma bruxa de Évora remontam aos primeiros séculos do Cristianismo, por volta do século III, coincidindo com o período de vida de do bruxo Cipriano. Eis uma prova da dificuldade de identificar a historicidade dessa feiticeira tão famosa.

Folclore da Bruxa de Évora em Portugal

No tempo em que os mouros viviam na região portuguesa de Évora [e os mouros chamavam a cidade de Yeborath a Liberalitas Julia da época da dominação romana], o rei mouro Praxadopel ali construiu um castelo em Montemur [região vizinha de Évora cujo centro é a cidade de Montemor].
Nesse castelo, hoje chamado Castelo de Giraldo, transformado em ruínas pelo passar dos séculos, em meio às pedras, louvado nas noites escuras pelo uivo de lobos e chacais, que, no fundo da propriedade, enterrada entre montes de pedras, está o Túmulo de Montemur. Nele foram encontrados os restos mortais de sete pessoas e pergaminhos [supostamente] escritos por LAGARRONA, a feiticeira de Évora.
Frei Antão de Sis, estudioso dos fenômenos mágicos e da feitiçaria, através dos pergaminhos, encontrou a casa da bruxa, ainda em pé, apesar do tempo. Descreveu-a como uma casa diabólica... No meio dela havia uma cova da altura de um homem. As paredes internas estavam repletas de desenhos representando lagartos, cobras, lagartixas caracóis, rãs, escaravelhos, símbolos egípcios, vespas, baratas e outros bichos peçonhentos.
Do lado de fora, havia quatro sapos e várias figuras de meninos tendo nas mãos molhos de varinhas de ervas com os quais ameaçavam os sapos. Ainda dentro da casa, em dos cantos dessa casa mal-assombrada havia a escultura de pedra de um cavalo-homem, como um centauro. Noutro lugar, outra estátua, esta, a de uma mulher-serpente. Em certo ponto do chão ladrilhado com cerâmica negra, uma inscrição:

O primeiro a abrir esta cova
Verá coisas jamais vistas
Cava por diante para que resistas [enfrentes]
ao grande temor que seu peito prova
Verás sortilégios mágicos que prendem os homens,
o filtro do amor que amarra as mulheres.
Não temas, não temas. Não mostres temor:
acharás sucessos, magia e amor
e, por certo, em tudo será vencedor.

Gran libro de San Cipriano o los tesoros del hechicero, 1985

A bruxa de Évora Nos Livros

Em Portugal a Bruxa de Évora é o modelo de bruxa. Mas não somente em Portugal: este modelo de bruxa está na fantasia de toda a Península Ibérica e nos territórios que foram descobertos e conquistados pelos grandes navegadores ibéricos da Idade Moderna.

No primeiro, no que se refere à biografia da Bruxa, o que se encontra, logo no primeiro capítulo é uma reprodução e/ou tradução de outro texto de autor praticamente desconhecido: capítulo do Livro de São Cipriano, sabe-se lá em qual de suas repetitivas versões mas, muito possivelmente da edição em espanholGran Libro de San Cipriano o los tesoros del hechicero.

O capítulo, intitulado La Hechicera de Evora o Historia de La Siempre Novia (Siempre Novia, referência uma das lendas mais difundidas sobre a Bruxa) teria sido, supostamente, extraído [todo o capítulo] de um manuscrito cujo autor é um certo [ou incerto] Amador Patrício.

Outro supostamente episódio biográfico sobre a Bruxa relata o paradoxal encontro da Feiticeira com o Bruxo Cipriano, já cristianizado mas ainda especialista em bruxedos. O caso é conhecido com O Encontro de São Cipriano com a Bruxa de Évora. Neste encontro, Cipriano não parece um discípulo diante de uma antiga mestra. Ao contrário, é a bruxa, já em avançada idade que recorre ao novo cristão para realizar um feitiço que lhe renderia [a ela, bruxa] bom dinheiro. Trata-se dofeitiço da cobra grávida, para segurar marido.

O ex-bruxo propõe uma barganha: a conversão da bruxa ao Cristianismo em troca da fórmula mágica. A bruxa aceita e eis a feiticeira de Évora transformada em penitente velhinha cristã. Ao final, a receita profana, destinada a recuperar o marido da contratante, uma jovem senhora da nobreza, pede o favor para a réptil gestante [a cobra grávida!] mas, isso em nome de Deus e da Virgem Maria! Uma combinação extravagante de feitiço pagão e reza cristã.

Santander, autor deste livro, O Livro da Bruxa ou Feiticeira de Évora, este autor é tão difícil de identificar e datar quanto a própria Bruxa de Évora. Ele começa sua obra sem qualquer introdução, identificando o período de vida da personagem que dá nome ao livro com o tempo da dominação Sarracena na península Ibérica, ou seja entre o século VIII e começo do século XII.

Escreve Santander: No tempo em que os mouros viviam na região portuguesa de Évora... E ao longo do capítulo descreve o que seriam os últimos anos de vida da Bruxa, claramente qualificada como Moura, muçulmana. No relato, a feiticeira tem um filho adulto e mau. Chamado Candabul, desejou possuir uma jovem donzela cristã. A bruxa ajuda no rapto da moça, providencia a morte por enfeitiçamento todos os pretendentes dela. Mas o mal-feitor é preso e condenado à morte. Mais uma vez a bruxa interfere e se empenha em produzir mágicos meios de fuga para Candabul.

O fantasma da Bruxa

Caçada pelos agentes da Lei, depois de várias peripécias, ela acaba morrendo durante um acidente na realização de um de seus feitiços, que fazia em uma tentativa desesperada de escapar da Justiça. Quando chegaram os soldados, encontraram-na morta. Não foi sepultada. Como punição post-mortem, foi pendurada na porta da própria casa e ali ficou apodrecendo e sendo devorada pelos abutres e vermes. O cadáver, lentamente virando ossada, oscilando ao sabor das ventanias, era uma visão macabra que parecia vigiar o lugar e a bruxa morta passou a ser chamada de La Guardona [ou, as corruptelas, Lagarrona e Lagardona], algo como A Guardiã... da casa, de suas ruínas e arredores. O local, naturalmente, passou a ser temido e considerado como assombrado [Gran Libro de San Cipriano o los tesoros del hechicero, 1985].

Lendas, Fórmulas e Segredos

Torna-se claro que os relatos sobre a bruxa de Évora são de fato, um conjunto de lendas e seus supostos escritos são de origem desconhecida, excertos de Grimórios mais antigos de autoria igualmente duvidosa. Alguns são atribuídos a este ou aquele mestre mais conhecido na esfera do folclore, da cultura popular, como Alberto, o Grande, Papa Honório, bruxo Atanásio e o próprio Cipriano, o feiticeiro.
Muitas das receitas dos Grimórios são fórmulas de remédios caseiros, acervo de um saber muito útil em uma época em que a medicina dispunha de toscos recursos e médicos com estudo eram poucos e para ricos. Muitos dos Segredos da Bruxa revelados no livro de Amadeo de Santander fazem parte da sabedoria popular dos curandeiros e curandeiras de linhagem imemorial, uma herança que durante muito tempo foi preservada e transmitida através da cultura oral.
A própria Bruxa apresentada por A. de Santander em sua pretensa-original tradução-reprodução do Único e autêntico manuscrito comprovado pelos sábios da Galícia extraído do Flor Sanctorum, datado dos tempos dos mouros de Évora, a feiticeira comenta revelando algo possivelmente verídico na vida de muitasBruxas de Évora: que seus conhecimentos foram-lhe ensinados pela mãe, segredos passados de geração em geração. Explicando a Cipriano em que consiste o seu [dela] feitiço da Cobra Grávida Para Prender Marido ela revela algo de recorrente na biografia dessas bruxas de Encruzilhadas:
É pele de cobra com flor de suage [ou sage, Artemisia vulgaris ou, ainda, flor-de-são-joão, erva-de-são-joão, artemísia-verdadeira, losna, absinto.L.C.] e raiz de urze [Erica Lusitanica ou torga e/ou Calluna vulgaris] que estou queimando em nome de Satanás, para defumar as roupas do duque [o Grão Duque de Terrara] e ver se o desligo daquela mulher [uma amante]. Esta mágica foi sempre infalível quando minha mãe a praticava debaixo dessas abóbodas em que as mãos dos homens não tomaram parte. Minha mãe desligou com ela [a tal magia] mancebais[relações extraconjugais] de nobres e monarcas...
(SANTANDER, p 13)
Compilados em manuscritos medievais, organizados em volumes raros, artesanais, ornados com finas iluminuras, a grande enciclopédia dos saberes populares, pagãos, curiosamente, começou a ser organizada, não raro, pelo monges escribas das grandes escolas e bibliotecas de mosteiros da Cristandade medieval. Provavelmente foi da pena dos monges que surgiram os primeiros Grimórios e/ou Engrimanços. Com o advento e evolução da imprensa, ou seja, depois de Johannes Gutenberg [Johannes Gensfleisch zur Laden zum Gutenberg, 1398-1468 – alemão, considerado inventor/introdutor da imprensa no Ocidente], esses conhecimentos documentados em registros escritos tornaram-se disponíveis em numerosas cópias que ganharam o mundo em letras de forma, em publicações variadas, de folhetos baratos, almanaques de curiosidades até custosas e exclusivas edições.

A Bruxa de Évora por Maria Helena Farelli

Em A Bruxa de Évora, Maria Helena Farelli (2006) apresenta a personagem como arquétipo folclórico luso-hispano-brasileiro, com ênfase nas raízes portuguesas da lenda, já devidamente hibridizadas entre: 1. o druidismo celtíbero doméstico; 2. o culto romano à deusa Diana [correspondente à grega Artemis], cujas ruínas do templo ainda podem ser visitadas em Évora; 3. a figura mítica da moura feiticeira, freqüentemente apresentada, simplesmente e depreciativamente como aMoura Torta, um modelo de bruxa, tudo isso misturado ao – 4. ritualismo cristão das orações e adoração dos santos e das relíquias e nome sagrados.

Em Farelli (2006), a narrativa passa, como é necessário, pela história da nação lusitana, detendo-se em período em que a cultura popular mística-religiosa já tinha absorvido elementos que ficaram como herança do tempo da dominação islâmica-sarracena em toda a península Ibérica. Boa parte dessa herança consiste no universo misterioso na magia semita, caldaica, mesopotâmica: dos magos-alquimistas, astrólogos, videntes, quiromantes, necromantes – invocadores de gênios e espíritos dos mortos, magia-negra, também, sim, da mais antiga tradição árabe, pré-Islã. Segundo Farelli a Bruxa de Évora era a ...guardadora dos segredos dos feitiços do Oriente, a que voava em camelos alados... (FARELLI, 2006 – p 15).

Sobre o sincretismo no qual foi forjada a Bruxa de Évora, a autora escreve: ...o português sempre acendeu uma vela para Deus e uma para o outro. Até na Igreja ele fazia mirongas... Até os padres eram acusados desses feitos. Mas os considerados grandes bruxos eram os mouros e os judeus... (Idem, p 29). E mais: ...segundo a lenda, a Bruxa de Évora era moura... árabe ou mourisca... morena... (Ibid., p 29).  

Bruxa Erudita

Em relação à aparência, A Bruxa de Évora (FARELLI, 2006) apresenta o arquétipo folclórico da personagem em sua velhice. Esta esta é uma daquelas bruxas velhas e esquivas dos contos infantis. Mas, ao contrário do modelo da curandeira intuitiva, analfabeta, camponesa ignorante cujo conhecimento é todo proveniente de experiência pessoal e herança de tradições orais, em Farelli (Idem) a bruxa de Évora é praticamente uma erudita. Alfabetizada, poliglota, ela fala, lê e escreve em português [o gentílico da época], árabe e latim.
Sem citar sua fonte de informação, a autora enfatiza: Sabia matemática... reconhecia as estrelas,... sabia ler a sorte nas areias... Ela conhecia a magia de seus ancestrais muçulmanos* mas, vivendo no século XIII [anos 1200], também sabia [da magia] dos celtas... (FARELLI, 2006 – p 33). Todavia, a moura pagã era, ao mesmo tempo, devota cristã: ...a velha bruxa já tinha feito a peregrinação a Santiago de Compostela [tradição cristã]... Já tinha ido à Sé de Braga, muitas vezes, pagar promessas... (Idem) ...E, ainda: ...a bruxa de Évora não era uma herética. Era uma mulher que conhecia as rezas (Ibid., p 41).
Além disso, essa Bruxa de Évora era uma senhora em situação social e de comportamento atípicos para sua época. Vivia bem [ou seja, não passava dificuldades financeiras, materiais]. Tinha dinheiro proveniente da prestação de seus serviços mágicos e/ou técnicos-científicos. Porém, consciente do espírito dos tempos medievais, não ostentava riqueza ou poder. Era discreta, sabiamente. Andava pobremente vestida, Era seu jeito de ficar invisível e evitar confrontos com as autoridades religiosas.

Flos Sanctorium ou Flos-Santorio: Flor dos Santos

Como todo ocultista, seja leigo ou erudito, considerando uma figura histórica da Bruxa como precursora ou símbolo de um mito, a Bruxa de Évora, alfabetizada que era possuía ou devia possuir seu próprio Livro [ou livros] de estudos e anotações contendo fórmulas de elixires, ungüentos, poções, rezas, rituais e outros saberes. Nos meios exotéricos, o livro de registros pessoais de uma bruxa é chamado Livro das Sombras.

Um possível Livro da Bruxa de Évora seria – ou foi e é, um objeto que, se autêntico, atraiu e atrai curiosidade e cobiça proporcional à força lendária de sua suposta autora. Um objeto digno de um Museu de história da cultura ocidental. De fato, este Livro é um dos elementos mais explorados do folclore em torno da Bruxa; explorado, inclusive, no mercado editorial.

Porém, o texto que tem atravessado séculos e que Amadeo Santander reproduz em seu Livro da Bruxa (s/data), este texto é uma mutação de autoria desconhecida o suficiente para ser considerado de domínio público. Na folha de rosto de uma edição recente Santander e/ou a editora [seja lá quem for este autor] declara que a obra reproduz o único e autêntico manuscrito... [cópia] do original extraído dos Flos Sanctorum, datado do tempo dos mouros de Évora.

Esta informação é uma encruzilhada na pesquisa: ocorre que o Flos Sanctorum [ou Florilégio dos Santos, Flor dos Santos] a princípio, é Hagiografia: um livro que reúne biografias de santos [?!]. E a situação se complica posto que o Flos Sanctorum, segundo estudos é, por sua vez, reedição de um livro mais antigo, A Lenda Áurea ou A Legenda Áurea que também é, essencialmente, coletânea de vidas de santos, escrito-compilado por Jacobus de Voragine [1230-1298, italiano, religioso dominicano, arcebispo de Gênova], datado em em torno do ano de 1260.

A questão é: como pode, o Livro da Bruxa apresentado por A. Santander ser extrato, derivação de um Flos Sanctorum de qualquer século? Tudo indica que o Livro da Bruxa não é, de modo algum derivado de manuscritos de uma Bruxa de Évora. O nome da Bruxa, nesse caso, tal como no caso do penitente Bruxo Cipriano é usado como atrativo de mercado. Caso simples de propaganda enganosa. Em ambos os casos, os Livros atribuídos aos lendários autores são coletâneas de simpatias e receitas populares, tradicionais, resgatadas do acervo da cultura oral, misturadas com rezas e saberes práticos destinados a solucionar os problemas do corpo e da alma do Homem medieval.

Sobre o Livro de A.Santander
O Livro da Bruxa

No livro de A. Santander as receitas mágicas, feitiços, oráculos, começam no CAPÍTULO III com uma técnica muito útil, atemporal! que pode funcionar em qualquer época, para as mulheres se livrarem dos homens quando estiverem aborrecidas de os aturar. A seguir, uma receita infalível para as mulheres não terem filhos, tão útil quanto anterior ou mais, método bastante tradicional, utilizando esponjas do mar introduzidas na vagina antes do coito, truque já usado no Egito Antigo, por exemplo. Há magias para sedução, rejeição e fidelidade, para prosperar no trabalho honesto ou desonesto. Oferece proteção contra inimigos, oráculos para saber do presente e do futuro, feitiços e contra-feitiços.

O CAPÍTULO IV resgata a figura do mago egípcio Janes [que, juntamente com seu parceiro, Jambres], que confrontou Moisés e Arão diante do Faraó com uma disputa de poderes mágicos. Este personagem, o mago egípcio Janes, pouco lembrado nos dias correntes, também é citado nos Livros de são Cipriano, fortalecendo as alusões a uma ligação, mestra-discípulo entre o Santo Bruxo e a Bruxa de Évora. Em uma das versões da fim da vida da Bruxa, ela é convertida ao cristianismo por Cipriano e termina sua vida como devota católica e aia [camareira pessoal] de uma aristocrata.

Neste capítulo, continuam sendo listadas magias relacionadas com questões mundanas, cotidianas, incluem ainda, receitas de beleza: Para conservar a formosura, para afinar, limpar e clarear a pele, tingir os cabelos. Em uma das fórmulas o mago Jambres promete: ...Fazer sumir do corpo e do rosto as verrugas, manchas e outras excrescências da pele.

O CAPITULO V é dedicado à Pastoromancia, denominação imprópria, refere-se à chamada, por ocultistas como Eliphas Levi [Alphonse Louis Constant, 1810-1875] e Papus [Gérard Anaclet Vincent Encausse, 1865-1916], magia dos campos, da tradição dos pastores da Sicilia, Itália. E não são propriamente magias.
São receitas, mais especificamente, medicinais, parte do arsenal curativo popular dos precários tempos medievais. São remédios e rezas para combater, solitária [Taenia solium, verme platelminto], hemorróidas, lesões musculares, surdez, dor de dentes, feridas, úlceras, hemorragias, queimaduras, picada de insetos e animais peçonhentos e, é claro, receita contra calos e verrugas.

O CAPITULO VI promete revelar o segredo alquímico da arte de fazer ouro. Porém, como sempre acontece nesse tipo de "literatura" o texto nada fornece de aproveitável sobre o tema. Aliás, passa longe de qualquer fórmula de produzir ouro.

São mencionadas algumas substâncias muito usadas noutras operações mágicas registradas noutros manuais do género. Tais substâncias seriam ingredientes-chave da transmutação de materiais ordinários no precioso metal. Escreve Santander: Não faltam nos livros verídicos [?] exemplos que comprovem essa operação. E ainda: Esta arte é de grande facilidade [!] mas exposta a graves perigos porque não se pode executar em a cooperação do demónio (SANTANDER, p 59).

É o demónio quem prepara e fornece certos pós empregados na transmutação. Dois metais e uma outra substância são mencionados como ingredientes essenciais: argenteo vivo [possivelmente interpretável como Alumínio (Al) mas muito mais provável que seja redundância esclarecendo o azougue como sendo e elemento Mercúrio cujo símbolo é Hg provém da designação latina – hydrargyrum que significa prata líquida.

De fato, o Mercúrio assemelha-se a uma prata buliçosa e vívida [por sua consistência entre o fluido e o gel]; daí também a denominação azougue [para o mercúrio], aludindo a algo buliçoso, que não para quieto. Finalmente, entre os ingredientes da transmutação comentada em O Livro da Bruxa é mencionado um misterioso pó de Resh. (Para saber mais sobre alquimia, procure sobre o post relacionado aqui no site).

CAPÍTULO VII – TESOUROS DA GALIZA -Galiza ou Galícia é uma comunidade autônoma espanhola, fronteira com Portugal, situada a noroeste da Península Ibérica. Sua capital é Santiago de Compostela, na província da Corunha. As informações sobre estes tesouros foram alegadamente extraídas de um pergaminho que teria sido encontrado nas ruínas do castelo mourisco de Altamira no ano de 1065.

Sobre o paradeiro do pergaminho (no século XX) diz o autor (Santander) que encontra-se [ou encontrava-se...] em Barcelos, [cidade portuguesa, norte do país], na Biblioteca Acadêmica Peninsular Catalã.
Muito danificado, o pergaminho tem partes carcomidas e em alguns casos não se entende bem (SANTANDER, p 63]. Na verdade, todo o texto sobre os supostos Tesouros da Galiza não se entende nada bem, por exigüidade de informações e/ou por arcaísmos nas denominações topográficas, medidas de distância e valores.

Os termos usados nos textos dos 173 (cento e setenta três) segredos estão repletos de termos muito antigos. Exemplos: Encruzilhada de Lobios, distância de 32 homens... depositamos 500 cunhos, na ponte do Poderoso, à profundeza de dois homens...[na]... residência de frei Tramudo... um haver de prata em rama... entre dois troncos de pinheiro, etc.

Deste modo, as dezenas de segredos que deveriam revelar ou fornecer chaves de localização de tesouros, parecem nada significar; de nada servir aos caçadores das arcas e das botijas perdidas.
Todavia, se um crédulo ou teimoso arriscar apostar em algumas das 173 dicas vai precisar estudar exaustivamente para decifrar/traduzir os nomes de localidades, que mudaram muitas vezes, identificar personagens históricos, descobrir e converter para termos atuais valores das distâncias e das supostas riquezas.

CAPÍTULO VIII – ORÁCULO DOS SEGREDOS REVELADOS PELA FEITICEIRA DE ÉVORA 
São 108 estes segredos que o autor (Santander) classifica como maravilhosos. Porém o capítulo, na realidade apenas reúne mais receitas, cujo teor oscila entre a superstição e o curandeirismo mais popular.
Pretender fornece fórmulas para uma miríade de problemas da condição humana: desde a prática de proezas sobrenaturais, remédios caseiros para questões domésticas mais ou menos ordinárias ou, ainda artifícios para alcançar desejos pouco louváveis e, certamente, nada cristãos.

Em termos gerais trata da saúde e higiene básicas, das virtudes de certas substâncias e de outras coisas, dos truques mágicos para obter vantagens, das operações consideradas sobrenaturais, como a levitação. São outros exemplos desses segredos textos que tratam de assuntos como:
Em saúde e higiene – Cura de dores de cabeça, evitar pulgas, carrapatos, percevejos, piolhos, formigas, moscas; são remédios par lombrigas, tosse, catarro. diarréia, desinteira; para evitar a sarna, para conhecer enfermidades pelo exame da urina, para manter a castidade, para cobrir os cabelos brancos. Para manter a castidade...

Sobre virtudes de substâncias e de certas coisas – Do vinagre, da urina, do ovo, da Genebra, da Artemísia, do Jacinto, do sono, de peles descartadas na muda das cobras. Para conhecer as enfermidades pelo exame da urina. Sobre as virtudes do sono.

Prodígios – Tirar o sal da água do mar. Separar água e vinho. Para que um cavalo pareça manco não sendo. Para não sentir tédio nem cansaço em uma jornada. Para o fogo não queimar. Descobrir infidelidades. Fabricar uma lâmpada invisível.

CAPÍTULO IX – FRENOLOGIA, ANTROPOMETRIA & FISIOGNOMIA
Trata-se de conhecer os indivíduos pelo estudo ou leitura do Crânio [fenologia], das Proporções e aspectos das partes do Corpo [antropometria] e dos traços do rosto [fisiognomia]. Capítulo bastante curioso que, muito provavelmente, mistura sabedoria popular com idéias científicas que tornaram-se populares.

Além disso, esse tipo de conhecimento é matéria essencial para qualquer magista e/ou ocultista, uma tema especial entre todos os tópicos dos estudos das Ciências Humanas [no ocultismo].

Embora estas ciências tenham origens muito antigas, o texto de Santander em O Livro da Bruxa é fundamentado nos estudos do médico alemão Franz Joseph Gall (1758-1828, que mapeou crânio e cérebro segundo suas supostas funções): Gall, o notável médico e fisionomista... é o autor deste engenhoso sistema, que ensina a descobrir, por claríssimo modo, as inclinações, vícios, paixões e virtudes de todas as pessoas pelo simples exame e configuração do crânio. ...Não se pode por em dúvida a lógica desse sistema. ... Os homens mais notáveis, tanto por seus talentos como por seus crimes, raras vezes apresentam cabeças regulares[SANTANDER].

Santander fornece a lista das faculdades cerebrais, que são trinta associadas a trinta regiões crânio-cérebro, mas não apresenta o mapa concebido por F. J. Gall. A seguir passa a tratar da fisiognomia, estudo dos traços e formas do rosto fornecendo algumas dicas sobre a leitura dessas características: formato, tamanho dos olhos, nariz, testa, boca, dentes, queixo, orelhas, mãos, pés.

Também fala dos tipos físicos como um todo, considerando altura, compleição, postura. Porém, o estudo apresentado por Santander muito superficial se comparado a outros publicados por ocultistas mais eruditos, como Papus [Gerard Anaclet Vincent Encausse, 1865-1916].

CAPÍTULO X – CARTOMANCIA
Neste penúltimo capítulo, mais uma vez, misterioso manuscrito revelaria a técnica da suposta Bruxa de Évora no ofício oracular de ler o destino das pessoas nas cartas de um baralho comum.

Na misérrima choça que abrigava a bruxa, sua última morada antes da condenação e num falso compartimento que lhe servia de dormitório, foi achado um manuscrito esta nova arte de deitar as cartas, a que demos o nome de cartomancia cruzada e, ao que parece, [desta técnica] a feiticeira começou a fazer uso depois de ter-se indisposto com Satanás [supostamente, a Bruxa converteu-se ao Cristianismo por influência do também ex-feiticeiro Cipriano – [p 139].

Observação: Na cartomancia, as cartas podem deitadas [tiradas e postas na superfície de um plano] em disposição linear, uma ao lado da outra, é muito comum. A forma cruzada dispõe as cartas de modo a formarem a figura de uma cruz, com uma tiragem de cinco cartas, por exemplo. Isso isentaria a prática de tirar a sorte do estigma do pecado que consiste, justamente, em fazer uso de oráculos. Meditemos...

CAPÍTULO XI – SOBRE ASSOMBRAÇÕES

Finalizando o Livro, Santander apresenta uma pequena coleção de casos de assombrações, sem faltar a célebre casa assombrada de Atenas e referências a personagens do folclore histórico, especialmente da península Ibérica, como: o Frade da Mão Furada e a Velha nos telhados das casas. Crenças que chegaram ao Brasil colônia como atestam pesquisas de estudiosos do assunto.

Fonte: http://brunoalinesobrenatural.blogspot.pt/2011/04/bruxa-de-evora.html

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Programa 5 Bandas Ibericas

Ya está disponible para escuchar el podcast del nuevo programa de Galdralag Radio con un especial de Bandas de la Peninsula Iberica:




- ARDE FERO
- AZAGATEL
- SANGRE DE MUÉRDAGO
- ÁNGEL ROMÁN
- KELTIKA HISPANNA
- CUELEBRE
- URZE DE LUME
- CAELIA
- WIHINEY RITA
- STILLME
- THE WYRM
- SILENT LOVE OF DEATH
- ÁRNICA





sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Larouco

Parece boa de mais para ser verdade, esta descoberta.
Para os estudiosos do tema e para os pagãos nacionais, encontrar finalmente uma imagem de uma das principais Divindades dos Ancestrais Lusitano-Galaicos é como para um alquimista descobrir a maneira de transformar o chumbo em ouro.


Tornou-se já comum, na investigação actual do tema, considerar que o «Deus do Larouco» das inscrições romanas da Serra do Larouco, isto é, Larauco, é o Júpiter local, ou seja, o Deus do Raio e das Alturas destas populações pré-romanas e romanizadas, eventualmente o mesmo que Reve, uma das principais Divindades nacionais da Galécia e da Lusitânia.


Ora este achado bate certo, pelo menos em larga medida, com esta teoria, uma vez que o machado ou maço, que se vê na mão direita da figura, corresponde ao clássico machado/martelo de um dos principais e mais arcaicos arquétipos do Deus do Raio indo-europeu, que é Tor entre os Germanos, Perkunas entre os Baltas e Perun entre os Eslavos. Também o Júpiter Doliqueno tem um machado nas mãos, nomeadamente um machado duplo, também conhecido como bipene ou lábris.

A ligação estabelecida nesta página http://www.manuelgago.org/blog/index.php/2012/01/25/mirarlle-a-cara-a-un-antigo-deus/ entre esta figura que aparece em Vilar de Perdizes e a do céltico irlandês Dagda, e a do gaulês Sucellos, está também muitíssimo bem observada, uma vez que tanto uma como outra são itifálicas, além de terem um maço de duas extremidades na mão, o qual, no caso de Dagda, mata com um dos lados e dá vida com o outro.


Particularmente interessante é ainda a parte em que o padre Fontes diz que está contente por ter descoberto este elemento da sua religião... da primeira vez que o diz, no vídeo, parece ter cometido um simples lapso, querendo na verdade referir-se à sua pesquisa, não à sua religião, mas no fim volta a dizer que aquela é de facto a sua religião, por ser a religião dos seus ancestrais... Não há-de ser coisa que os seus superiores hierárquicos do Estado Papal o gostem de ouvir dizer, mesmo que Fontes afirme que está só a querer dizer que «universalmente os Povos adoram Deus». Enfim, a guerra religiosa que o Cristianismo moveu contra o Paganismo ancestral, pelo próprio Fontes referida no início da entrevista, parece ter soçobrado ao nível da religiosidade popular...

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Canção ao Sol


Subindo as escadas do templo natural de nossos corações,
Nós saudamos o Sol!
Bendita Luz…
O seu toque cálido anima os nossos veículos de argila esculpidos pela Mãe Terra.
Nós subimos com honra e reverência saudando a aurora.
Vem, Ó Doador da Vida!
Nós lhe recebemos no centro do peito.
Nós lhe damos as boas vindas em nossas vidas.
Os nossos olhos brilham refletindo a sua beleza fulgurante.
Vem, Ó Radiante!
Enche-nos com a sua radiância natural.
A madrugada escura, ventre da sua aurora, deu passagem
Aos seus raios, filhos gloriosos da manhã.
Amigo de nossas vidas, nós lhe saudamos!
Em seu abraço luminoso nós começamos mais esse dia, sua dádiva de luz.
Em sua luz embalamos nossos filhos e netos.
E ensinamos a eles o valor de sua luz e a dádiva deste dia.
Falamos a eles do valor da vida.E os ensinamos a dança da luz.
Vem, Ó Amigo da natureza!
Nós lhe agradecemos a dádiva deste dia.
E que ele seja próspero!
E que os nossos corações sejam luminosos e generosos.
Salve Sol!
Salve, Ó Radiante!
Pai da Luz, Pai de nós todos!!!

domingo, 5 de janeiro de 2014

Mitologia portuguesa

A mitologia portuguesa é herdeira de um caldeirão de povos e culturas, com mitologias bastante diversas entre si, que deixaram um fértil legado imaginário. Engloba o conjunto de narrativas maravilhosas e lendas sobre personagens e suas façanhas, fenómenos naturais e objectos extraordinários ou regiões fantásticas, com características sobrenaturais, transmitidas de geração em geração, no decorrer dos séculos, tanto no campo literário como no da tradição oral.



Origens pré-romanas


A mitologia portuguesa tem como base a mitologia dos povos autóctones da Lusitânia pré-romana, legado este que não sobreviveu à conversão para o cristianismo. No entanto, é possível que alguns elementos tenham sido preservados e cristalizados nos contos e tradições populares, assim como em diversos hagiotopónimos. Como afirmou Leite de Vasconcelos.
“[...]seria fácil mostrar como das épocas mais antigas da Lusitânia, ainda mesmo dos tempos pré-históricos, até hoje se têm mantido muitas crenças, costumes, etc., e como a maior parte das lendas da nossa Igreja e usos cristãos derivam do paganismo.”
A mitologia lusitana, sob a forma de testemunhos esculpidos na pedra, revela a existência de uma miríade de divindades das quais se destacam Atégina, Bandua e Endovélico.
Estrabão, nos raros relatos sobre os costumes nativos, diz que no cabo Sagrado, o lugar onde os deuses reuniam-se de noite, havia diversas pedras, amontoadas em grupos de três ou quatro, que eram viradas ao contrário pelos visitantes e que, após um ritual em que estes ofereciam uma libação, as pedras tornavam a ser reviradas na sua posição anterior. Este seria um dos relatos mais antigo de um culto das pedras, penedos e montanhas que a tradição preserva ao longo do tempo em crenças como a da procissão infantil para pedir chuva, nos moledros dispersos pelas paisagens, nos Fiéis de Deus venerados nas beiras dos caminhos, na pedra de raio que Solino comenta ser objecto de culto pelos lusitanos, ou mesmo na lenda da pedra-moura. Associada a um culto solar ou ritual de fecundidade, a Nossa Senhora d'Antime, também chamada Senhora do sol, uma pedra tosca de granito metamórfico, apenas com o rosto esculpido; é a sobreposição de um culto cristão a um ritual pagão. Os frades de pedra são associados a um culto fálico pré-romano, também identificado nas estátuas-menir da idade do bronze, assim como a tradição do levantamento do mastro de Fonte Arcada e o cortejo do Pinheiro das Festas Nicolinas.
O culto das cabeças cortadas representado nas esculturas e artefactos galaico-lusitanos que supõe-se ser um ritual religioso de origem celta, relacionado a divindades associadas a cultos agrários, funerários e guerreiros ao qual Rafael Loureiro indica haver uma continuidade na tradição das caveiras iluminadas, que chamam-se em Portugal de coca ou coco. Um ser que Gil Vicente chama de demo no Auto da Barca do Purgatório e que foi ao longo dos séculos representado nas festas do Corpo de Deus por um dragão e nas procissões pelo faricoco (do latin far,farris14 mais coco) e que deu o nome a um traje ainda em uso no início do século XX, a coca.
Aos rituais do solstício de inverno e mesmo os que se celebram no equinócio da primavera, segundo Hélder Ferreira que lhes atribui uma origem celta, estão associadas às máscaras ibéricas. E a esta tradição associa-se uma outra também milenar a dos Madeiros, fogueiras da Páscoa e galheiros ou cambeiros.

Contributo Romano


Após a conquista romana da península Ibérica e subsequente romanização, fruto de um lento processo de aculturação mais evidente a partir do século II d.c, os nomes das divindades indígenas são frequentemente latinizados pela sua similitude fonética ou simplesmente associados, pela similitude das funções e qualidades, aos deuses greco-romanos como por exemplo se verifica com o Ares Lusitani ou o Mars Cariocecus. O culto dos deuses romanos foi divulgado, principalmente, pelos burocratas da administração central e pelos militares. No entanto, Roma parece não ter imposto os seus deuses e práticas religiosas às populações locais o que terá permitido uma certa tolerância às crenças indígenas,que fez com que se desenvolvessem, de forma natural, fenómenos de aculturação, embora nos meios rurais, nas zonas mais afastadas dos grandes centros urbanos, os fenómenos de aculturação tivessem tido ritmos mais lentos o que favoreceu a permanência dos cultos indígenas e quase nenhuma influência romana nestas áreas.
Outras fontes importantes foram os autores greco-romanos que registaram algumas lendas como a do rei Luso fundador da Lusitânia, a lenda da fundação de Olissipo por Ulisses, ou a presença de nereidas e tritões na margem do rio Tejo.
A tolerância religiosa, irá deixar de existir ainda durante o Império Romano. Os cultos pagãos acabaram por ser proibidos motivados por interesses de ordem político-religiososa por parte do clero cristão a partir do momento em que o Império Romano assumiu o cristianismo como sua religião.
No contacto entre o paganismo e o cristianismo supõe-se que haja indícios de ter havido em alguns casos uma sobreposição de cultos, nomeadamente no culto à deusa Atégina, que parece ter sido substituído pelo culto a Santa Eulália de Mérida, perseguida no período de Deocleciano, pela similitude dos epitáfios dedicados a ambas.
Também os locais de culto pagão são identificados nos topónimos de santos arcaicos, de mártires ou outra figura sacra dos primeiros séculos da Era cristã, venerados por comunidades cristãs primitivas, quando estes locais sagrados teriam sido cristianizados.

Suevos e Visigodos


Diversos mitos e lendas foram criados durante a época histórica da criação da nacionalidade e a sua elaboração foi ganhando contornos mais elaborados ao longo das gerações.
Os mitos portugueses integram diversos tipos de narrativas, que nos revelam os aspectos da imaginação nacional portuguesa concentrada em torno do ciclo da vida e da morte e das forças da natureza, com origem em diversas fontes:
O corpus mítico português contínua a constituir-se e densificar-se. Desde o século XIX que importantes contribuições foram feitas na recolha de contos, lendas e folclore.


sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Máscara Ibérica

A máscara ibérica é a máscara típica de Portugal e Espanha e segundo Hélder Ferreira "muitas estão ligadas a cultos celtas, ao solstício de inverno... e mesmo as do Entrudo estão ligadas a cultos deste tipo como também pode ser o da fertilidade".
Careto de Lazarim
A "Máscara Ibérica" é o nome do projecto, do livro e da exposição que envolve a divulgação das máscaras regionais dos dois países. As máscaras Ibéricas preparam a sua candidatura como Património Imaterial da Humanidade. Os mascarados têm diversos nomes consoante a região de onde são:

Chocalheiro da Bemposta
Careto de Podence

Máscaro de Ousilhão
Caretos da Lagoa - Mira
Cardador de Vale de Ilhavo
Carocho de Constantim
Chocalheiro de Vale de Porco

Boteiros (Espanha)
Cigarróns (Espanha)
http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1scara_ib%C3%A9rica


Estátua de Víbora cornuda


Não é todos os dias que vemos uma estátua dedicada a uma das nossas espécie de anfíbios ou répteis, no entanto a Porta do Mezio do Parque Nacional da Peneda Gerês nos Arcos do Vale do Vez, decidiu decorar o espaço encomendando estatuas alusivas a animais emblemáticos do parque. Uma das espécies escolhidas foi a Víbora-cornuda e a estátua ficou incrível!

http://anfibioserepteis.blogspot.pt/