Em plena crise, o pensamento inquieta-se e interroga-se; ele pesquisa as causas mais profundas do mal que atinge a nossa vida social, politica, económica e moral.
As correntes de ideias, de sentimentos e interesses chocam brutalmente, e deste choque resulta um estado de perturbação, de confusão e de desordem que paralisa toda a iniciativa e se traduz na incapacidade de encontrarmos soluções para os nossos males.
Portugal perdeu a consciência de si mesmo, da sua origem, do seu génio e do seu papel, de herói intrépido, no mundo. Chegou a hora do despertar, do renascimento, de eliminar a triste herança que os povos do velho mundo nos deixaram, as bafientas formas de opressão monárquicas e teocráticas, a centralização burocrática e administrativa latina, com as habilidades, os subterfúgios da sua politica e dos seus vícios, toda esta corrupção que nos tolda a alma e a mente.
Para reencontrar a unidade moral, a nossa própria consciência, o sentido profundo do nosso papel e do nosso destino, isto é, tudo o que torna uma nação forte, bastaria a nós portugueses eliminar as falsas teorias e os sofismas que nos obscurecem o caminho de ascensão à luz, voltando à nossa própria natureza. Às nossas origens étnicas, ao nosso génio primitivo, numa palavra, à rica e ancestral tradição lusitana e/ou celtibera, agora enriquecida pelo trabalho e o progresso dos séculos.
Um país, uma nação, um povo sem conhecimento, saliência do seu passado histórico, origem e cultura, é como uma árvore sem raízes. Estéril e incapaz de dar frutos.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

OS LUSITANOS E A IDENTIDADE PORTUGUESA 3/8

Historiadores e geógrafos da Antiguidade




Os antigos gregos, que estariam mais interessados em falar das suas colónias na Ibéria, não nos deixaram muito que ler sobre os demais povos peninsulares. Já os romanos, e os gregos do período helenístico e do Império romano escreveram muitas descrições e relatos, dos quais se conservaram até hoje algumas opiniões e informações acerca dos Lusitanos. Rever tudo o que se encontra nessas fontes seria excessivo para os objectivos deste artigo, e por isso contentamo-nos com um rápido apanhado de alguns desses textos. Vamos apresentá-los por ordem cronológica.
Políbio (c.203-120) descreve o clima e as terras dos lusitanos, sua economia, e enumera as principais produções como sendo trigo, cevada, vinho, e gado.
Diodoro Sículo (séc. I a.C.) distingue os Lusitanos que viviam no alto dos montes de difícil acesso, daqueles do litoral, que viviam com maior conforto e urbanidade; mas assinala que os Lusitanos "são os mais fortes entre os iberos", e forneceu-nos a primeira biografia conhecida de Viriato.
Estrabão (c. 63 - 22) na Geografia chama a atenção para as diferenças entre os autores anteriores na delimitação das terras dos Lusitanos, e consequentemente na ambiguidade da atribuição do nome de lusitano aos povos limítrofes. Para Estrabão as tribos dos lusitanos ficavam compreendidas entre o rio Tejo, a sul, e o Atlântico, a oeste e a norte, sendo seus vizinhos a leste os vaceus, vetões, carpetanos, e calaicos. Refere que estes povos são considerados por alguns autores como integrantes do conjunto lusitano, e destaca que este povo lusitano constitui a mais poderosa das nações ibéricas, e entre todas foi aquela que por mais tempo deteve as armas romanas".
Quanto à presença lusitana a sul do Tejo ele informa: os romanos obrigaram alguns grupos lusitanos a sair de suas terras e atravessar o rio em direcção ao sul, mas a Lusitânia pré-romana não chegava à terra dos célticos (ou cimpsos). Já a região a norte do Douro, diz Estrabão, foi em tempos dos lusitanos, segundo afirmam outros autores, mas os calaicos mostraram-se tão irredutíveis que os lusitanos recuaram. Apesar desse revés ele descreve os lusitanos como ágeis na luta, bons caçadores, e habilidosos com as armas; aliás os historiadores e geógrafos do Império, impressionados com as guerras
que os lusitanos moveram contra os romanos, falam muito das virtudes guerreiras deste povo, deixando de lado outros aspectos que gostaríamos de conhecer.
Tito Lívio (59-17) na História Romana explica a participação dos povos da Ibéria na Segunda Guerra Púnica e refere-se algumas vezes aos lusitanos.
Plínio O Velho (23-79) no tomo IV da História Natural apresenta os seguintes limites para o teritório dos lusitanos: a norte o Douro, a leste o Anas, o Oceano a ocidente e sul; incluía, portanto, entre os lusitanos os cónios do Cinético, e os célticos do actual Alentejo. Plínio menciona entre as cidades da Bética (actual Andaluzia) a povoação de Turóbriga, ou Duróbriga, muito a leste do Anas; sabemos por outras fontes que Duróbriga era o principal centro de culto da deusa Atégina (Adégina, Atecina) quase sempre cognominada de Turobricense ou Turibricense; mas Atégina era uma das mais importantes deusas da religião dos lusitanos, o que atesta um elo notável entre as culturas lusitana e celta.
Pompônio Mela (séc.I d.C.) no De Situ Orbis descreve as cidades e rios das terras lusitanas e afirma com Plínio que elas se estendem até ao Anas.
Cláudio Ptolomeu (século I d.C.) restringe o habitat lusitano à região entre Douro e Tejo e cita muitas cidades do litoral, entre as quais Verurium (Aveiro), Veladis (Avelães), Traducta (Condeixa), Arabriga (Alenquer), Olisipo (Lisboa), e algumas mais para o interior, como Scalabis (Santarém); mas não menciona cidades nas regiões interior e montanhosa,tais como Conímbriga, Ballatucelum, Longobriga, Lorica ou Egitania.
Há ainda muitos autores que deixaram notícias sobre os Lusitanos, e que os estudiosos têm utilizado para reconstituir (e discutir as divergências) a história deste povo; citemos alguns: Possidônio (c. 135 - 51), Plutarco (c.46-120), Apiano de Alexandria (séc.I d.C.), e a muito citada Ora Maritima do poeta romano tardio Avieno, baseada em narrativas antigas de viagens pelo Atlântico.
Após a ocupação romana e os relatos que se referem às guerras lusitanas as notícias vão escasseando; a Província romana da Lusitânia mantém o nome, mas dos Lusitanos pouco se fala. No período das invasões germânicas a obra histórica de Orósio e a Crónica de Idácio ainda citam o povo, mas o povo vai se misturando com as vagas de invasores e imigrantes, que desapareceram no esquecimento dos escritores. Os cronistas medievais portugueses porém ,já se interessavam muito por esses antepassados Lusitanos.

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