Em plena crise, o pensamento inquieta-se e interroga-se; ele pesquisa as causas mais profundas do mal que atinge a nossa vida social, politica, económica e moral.
As correntes de ideias, de sentimentos e interesses chocam brutalmente, e deste choque resulta um estado de perturbação, de confusão e de desordem que paralisa toda a iniciativa e se traduz na incapacidade de encontrarmos soluções para os nossos males.
Portugal perdeu a consciência de si mesmo, da sua origem, do seu génio e do seu papel, de herói intrépido, no mundo. Chegou a hora do despertar, do renascimento, de eliminar a triste herança que os povos do velho mundo nos deixaram, as bafientas formas de opressão monárquicas e teocráticas, a centralização burocrática e administrativa latina, com as habilidades, os subterfúgios da sua politica e dos seus vícios, toda esta corrupção que nos tolda a alma e a mente.
Para reencontrar a unidade moral, a nossa própria consciência, o sentido profundo do nosso papel e do nosso destino, isto é, tudo o que torna uma nação forte, bastaria a nós portugueses eliminar as falsas teorias e os sofismas que nos obscurecem o caminho de ascensão à luz, voltando à nossa própria natureza. Às nossas origens étnicas, ao nosso génio primitivo, numa palavra, à rica e ancestral tradição lusitana e/ou celtibera, agora enriquecida pelo trabalho e o progresso dos séculos.
Um país, uma nação, um povo sem conhecimento, saliência do seu passado histórico, origem e cultura, é como uma árvore sem raízes. Estéril e incapaz de dar frutos.

domingo, 22 de julho de 2012

OS LUSITANOS E A IDENTIDADE PORTUGUESA 6/8

Entre Cartagineses e Romanos



Os lusitanos entram na História romana como aliados dos cartagineses; estes,pelas suas afinidades com os fenícios de Tiro, já comerciavam com os iberos desde longa data. A Primeira Guerra Púnica (264-241) praticamente não atingiu a Ibéria; mas a partir de 237, com o desembarque de Amilcar Barca em Cadiz, e a liderança de Aníbal Barca desde 221, os cartagineses não só se estabeleceram firmemente na Península tomando-a como base para atacar Roma por terra, como se expandiram para o norte, passando além do Tejo e chegando além do Douro. É então que aparecem os lusitanos como seus aliados, e um contingente de guerreiros acompanhou Aníbal em 218 em direcção à Itália. No ano seguinte as tropas romanas desembarcaram em Taragona e invadiram a Península, derrotando as forças cartaginesas; estes tinham os celtiberos como seus aliados, mas essa união não durou muito: Tito Lívio conta (27, 17) que Cipião passou o inverno na península para conseguir retomar a boa vontade dos bárbaros porque havia então uma espécie de tendência fortuita para arrastar toda a ibéria do partido dos cartagineses para o dos romanos. E pouco depois (34, 18) diz que os generais romanos viram os ibéricos, cansados do domínio cartaginês (taedio imperi carthaginensium) entregar-se a eles. Esta reviravolta deu-se principalmente em terras ibéricas (litoral mediterânico) porque a região celtibérica (ou celta: oeste e noroeste da Península) permaneceu quase unanimamente anti-romana. Daí a importância dos lusitanos na liderança das guerras ou campanhas de resistência a partir da Segunda Guerra Púnica.
Assim, com o auxílio dos naturais, os romanos em 205 já tinham o domínio das terras ibéricas - domínio que, aliás, não era só estratégico, porque nos sete anos seguintes (205-198) o território peninsular forneceu ao tesouro da República mais de duas toneladas de ouro e cem toneladas de prata. Além desta exploração, que certamente não se fez com a boa vontade dos ibéricos, os romanos tinham tratado os seus inimigos com crueldade e traição. Mas as legiões e os cobradores de impostos vinham para ficar, e em 197 a Hispânia foi dividida em Citerior (a mais próxima, que abrangia o leste, norte, e noroeste) e Ulterior (a mais distante, que incluía o sul e oeste). Mas já nesse ano de 197 os turdetanos do sul revoltaram-se contra Roma, e pouco depois (em 194 ou 193) os lusitanos entram em cena invadindo as terras do sul em apoio aos turdetanos: estava declarada e iniciada uma guerra que iria ocupar os generais e políticos romanos até ao advento do Império. Três anos depois de invadir a Turdetânia os lusitanos derrotam o procônsul Lúcio Emílio, que morre com todas as suas tropas. Em 185 os lusitanos voltam-se para leste e atacam os romanos na Carpetânia: mas Roma foi provocada, e manda revidar pelo sul; o pretor Postumio Albino consegue pela primeira vez derrotaros lusitanos em 179.
Durante alguns anos não há notícias de conflitos militares, mas em 155 os lusitanos aliados aos vetões massacram seis mil legionários e o pretor que os comandava; em 154 os lusitanos aliados aos celtiberos invadem o sul e chegam às Colunas de Hércules (Gibraltar); Roma contra-ataca no ano seguinte sob o comando de Mummio que após sofrer uma derrota com nove mil baixas recupera-se, repele os invasores (152) e fá-los recuar. É então que se dá um facto decisivo, pois no ano seguinte (151) Galba é derrotado e foge com suas legiões; pronto para retaliar a derrota, acena aos lusitanos com um acordo de paz, convida todos os guerreiros para uma assembleia, propõe-lhes que deixem as armas, e divide-os em três grupos; confiantes na palavra de um general os lusitanos ficaram à mercê do inimigo; Galba manda então os seus legionários avançarem: eles massacram nove mil guerreiros e fazem prisioneiros outros vinte mil. A traição e crueldade de Galba foi vivamente criticada no Senado, mas nem por isso Roma usou de boa vontade com os lusitanos.
Sobrevivente do massacre de Galba, porém, um jovem guerreiro decide vingarse: é Viriato, que durante cerca de dez anos vai infligir as piores derrotas às legiões, e que os generais, afinal, decidem também assassinar à traição.Uma solução bárbara, incivilizada e cobarde por parte da superpotência da época, que chamava bárbaros aos lusitanos,u ma nódoa que manchou a imagem de Roma, até hoje.

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